A REVOLUÇÃO dA SAÚDE MENTAL já começou
Remissão completa de Depressão e Ansiedade com Dieta Cetogênica
6/15/20256 min read
“Não estou mais deprimida. Percebi que estou feliz o tempo todo – o que é até engraçado.” Este depoimento é de uma das pacientes acompanhadas em um estudo clínico que investigou os efeitos da dieta cetogênica no tratamento da depressão e da ansiedade. Publicado em abril de 2024 no periódico Frontiers in Psychiatry, o estudo acompanhou três adultos com quadros psiquiátricos complexos e revelou que todos alcançaram remissão completa dos sintomas após algumas semanas de intervenção nutricional personalizada.
A pesquisa foi conduzida pelas norte-americanas Lori Calabrese e Rachel Frase, da Innovative Psychiatry (Connecticut), e Mariam Ghaloo, da Trinity College (Connecticut). O trabalho lança um olhar otimista e embasado sobre o potencial da Terapia Metabólica Cetogênica (TMC) como ferramenta no cuidado da saúde mental.
Introdução
Este artigo apresenta uma série de três casos clínicos em que pacientes com depressão maior e transtorno de ansiedade generalizada (TAG) alcançaram remissão completa utilizando a Terapia Metabólica Cetogênica (TMC).
A TMC é baseada em uma dieta cetogênica, que é:
Baixa em carboidratos
Moderada em proteínas
Alta em gorduras
Essa dieta induz um estado de cetose nutricional, onde o corpo passa a usar corpos cetônicos como principal fonte de energia em vez da glicose.
A dieta adotada teve uma proporção de "1,5:1", que refere-se à relação entre gramas de gordura e a soma de gramas de proteínas mais carboidratos na dieta. Ou seja, para cada 1,5 gramas de gordura, há 1 grama de proteína + carboidrato.
Siglas importantes utilizadas no estudo:
PHQ-9 (Patient Health Questionnaire-9): avalia a gravidade da depressão.
GAD-7 (Generalized Anxiety Disorder-7): avalia a gravidade da ansiedade.
BHB (beta-hidroxibutirato): corpo cetônico medido no sangue.
GKI (Glucose Ketone Index): relação entre glicose e corpos cetônicos.
Objetivo do estudo
Avaliar se a Terapia Metabólica Cetogênica personalizada, baseada em alimentos de origem animal e aplicada em ambiente clínico especializado, poderia promover remissão de depressão e ansiedade em adultos com comorbidades psiquiátricas e disfunção metabólica.
Metodologia
3 pacientes adultos (entre 32 e 36 anos)
Diagnósticos psiquiátricos múltiplos: depressão maior, TAG (transtorno de ansiedade generalizada), TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), TDAH (transtorno de déficit de atenção com hiperatividade), TEPT (transtorno de estresse pós-traumático)
TMC com dieta cetogênica animal-based (1,5:1) por 12 a 16 semanas
Intervenções incluídas:
Consultas com nutricionista cetogênico 2x/semana
Monitoramento diário com fotos, glicose, BHB e GKI
Apoio de grupos virtuais, amigos e familiares
Caminhadas e conversas na natureza
Critérios de sucesso
BHB (beta-hidroxibutirato) ≥ 0,8 mmol/L
É um dos principais corpos cetônicos produzidos durante a cetose. Níveis iguais ou superiores a 0,8 mmol/L no sangue indicam que o paciente atingiu cetose nutricional terapêutica, ou seja, o estado metabólico desejado para promover efeitos terapêuticos no cérebro e no corpo.GKI (Glucose Ketone Index) < 6
É o Índice Glicose-Cetona, uma medida que relaciona os níveis de glicose e corpos cetônicos no sangue. Um GKI abaixo de 6 indica cetose eficaz e sustentada, associada a efeitos metabólicos positivos, especialmente em doenças neurológicas e psiquiátricas.
PHQ-9 (Patient Health Questionnaire-9) ≤ 4
É um questionário clínico validado que avalia a gravidade da depressão. Uma pontuação igual ou inferior a 4 indica remissão clínica dos sintomas depressivos.
GAD-7 (Generalized Anxiety Disorder-7) ≤ 4
É uma escala de avaliação da ansiedade generalizada. Uma pontuação igual ou inferior a 4 indica remissão clínica dos sintomas ansiosos.
Resultados
Todos os 3 pacientes alcançaram remissão completa da depressão e ansiedade
Ansiedade remitiu mais rapidamente
Melhoras em foco, energia, autocompaixão, relações pessoais e qualidade de vida
Perda de peso: 10,9% a 14,8% do peso corporal inicial
Melhora de marcadores metabólicos e inflamatórios
Resumo dos Casos Clínicos
Caso 1
Homem, 32 anos — com depressão maior desde a juventude, TAG (transtorno de ansiedade generalizada), TOC (transtorno obsessivo-compulsivo), fobia de agulhas (trypanofobia) e compulsão alimentar. Desde a infância apresentava sintomas de desatenção, tendo tentado tratamentos com atomoxetina e lisdexamfetamina, com efeitos limitados. Recusava antidepressivos convencionais e não utilizava psicotrópicos durante o estudo.
No início da TMC, estava obeso (IMC 34,7), hipertenso, com gordura corporal elevada (36,1%) e perfil lipídico alterado. Adotou a dieta com janelas alimentares restritas e, em poucos dias, alcançou cetose terapêutica com níveis elevados de BHB.
Já na primeira semana relatou alívio da ansiedade (GAD-7 caiu de 16 para 8), que desapareceu por completo em 6 semanas. A depressão (PHQ-9 de 17) remitiu em 5 semanas. A compulsão alimentar desapareceu em poucos dias.
Nas semanas seguintes, relatou melhora da clareza mental, disposição, autoconfiança, e reencontrou motivação para estudar e trabalhar. Retomou a carreira em tempo integral, assumiu mais responsabilidades e se matriculou em cursos online.
Resultados laboratoriais e clínicos
BHB médio: 4,6 mmol/L na primeira semana
GKI: <6 consistentemente
Vitamina D: inicialmente deficiente (26 ng/mL), corrigida com suplementação
Perda de peso: 16,8 kg em 12 semanas
Gordura corporal: de 36,1% para 28,7%
IMC: de 34,7 para 29,6
Pressão arterial: de 136/102 para 116/81
PHQ-9: de 17 para ≤4 (remissão)
GAD-7: de 16 para ≤4 (remissão)
Depoimento: “Estou muito satisfeito com meu progresso na perda de peso e foco, e há uma melhora significativa na energia, que está no melhor nível que já tive. Meus níveis de energia estão tão bons quanto na época em que eu era atleta no colégio.”
Caso 2
Homem, 36 anos — com TAG desde a infância, transtorno do pânico, TEPT (transtorno de estresse pós-traumático), depressão moderada e persistente, e TDAH (não diagnosticado anteriormente). Ao longo da infância e adolescência passou por diversos medicamentos — antidepressivos, estabilizadores de humor, antipsicóticos e estimulantes — todos com efeitos adversos ou ineficazes. Estava há 15 anos sem medicação psiquiátrica, utilizando apenas vitamina D.
Com sobrepeso, colesterol alto e inflamação leve, iniciou a TMC e teve dificuldade em atingir a ingestão ideal de gorduras. Apresentou fadiga com exercícios intensos, o que foi resolvido com suplementação de carnitina. Após esse ajuste, atingiu cetose estável.
A ansiedade remitiu em 6 semanas. A depressão, inicialmente com PHQ-9 de 16, remitiu na nona semana, coincidindo com a estabilização dos corpos cetônicos. Perdeu 9,5 kg, reduziu gordura visceral, melhorou o perfil inflamatório (PCR alta-sensibilidade de 2,5 para 1) e atingiu saúde metabólica ideal.
Relatou mais foco, calma, paciência com a família e ausência do sentimento constante de irritação.
Resultados laboratoriais e clínicos
BHB: flutuante nas primeiras 8 semanas (0,2 a 1,8 mmol/L); estável após uso de carnitina
GKI: <6 após correção nutricional
Carnitina: baixos níveis iniciais, corrigidos com acetil-L-carnitina 1.500 mg 2x/dia
Perda de peso: 9,5 kg
IMC: de 27,8 para 24,9
Gordura corporal: de 26,1% para 17,8%
Gordura visceral: de 10 para 6
HS-CRP (inflamação): de 2,5 para 1
PHQ-9: de 16 para ≤4 (remissão)
GAD-7: de 8 para 0
Depoimento: “Estou dormindo bem, me sentindo bem no geral, me sinto um pouco menos irritado. Algo ruim aconteceu... e eu lidei com isso de forma muito mais calma do que eu jamais teria feito. Meus níveis de cetona ficaram mais consistentes e não tive mais episódios de fraqueza durante o exercício desde que comecei a tomar carnitina com as refeições.”
Caso 3
Mulher, 34 anos — com depressão severa, TAG, TEPT, histórico de anorexia e compulsão alimentar. Utilizava bupropiona, duloxetina, lisdexamfetamina e reposição de hormônios tireoidianos, todos mantidos durante a TMC. Era obesa (IMC 43,7), com resistência à insulina, altos níveis inflamatórios (PCR 6,4) e perfil lipídico alterado.
Apesar de dificuldades iniciais na adesão à dieta (viagens, pressões sociais), rapidamente identificou gatilhos e desenvolveu estratégias para manter a TMC. Alcançou cetose consistente na terceira semana.
A ansiedade remitiu em 5 semanas de cetose. A depressão remitiu na oitava semana. Parou de ter compulsões alimentares e não voltou a apresentar pensamentos anoréxicos, mesmo com a restrição alimentar. Relatou melhora expressiva no bem-estar, clareza mental e capacidade de lidar com situações sociais sem abrir mão da dieta.
Resultados laboratoriais e clínicos
BHB médio: 1,4 mmol/L na semana 3; 2,1 mmol/L na semana 4
GKI: 4,2 na semana 3; 2,3 na semana 4
Resistência à insulina: de 67 para 36
PCR (inflamação): de 6,4 para 2,3
Perda de peso: 13 kg
IMC: de 43,7 para 37,7
Gordura corporal: de 52,2% para 48,9%
PHQ-9: remissão após 8 semanas
GAD-7: remissão após 5 semanas
Depoimento: “Não estou mais deprimida. Percebi que estou feliz o tempo todo – o que é até engraçado.” Entendo por que as coisas deram errado no passado ao tentar dietas low carb por conta própria. O apoio das pessoas próximas é realmente importante para mim.”
Conclusão
Terapia Metabólica Cetogênica promoveu remissão clínica completa mesmo em pacientes com múltiplas comorbidades.
Melhoras metabólicas importantes acompanharam a resposta psiquiátrica.
Desafios incluíram ingestão insuficiente de proteína, cansaço com exercício, adesão irregular.
Acompanhamento frequente e suporte emocional foram essenciais.
A Terapia Metabólica Cetogênica personalizada demonstrou ser uma estratégia eficaz e promissora para tratar depressão e ansiedade em adultos com quadros psiquiátricos complexos e disfunção metabólica. O tempo para remissão variou entre 7 e 12 semanas. Mais estudos são necessários para confirmar e expandir esses achados.
Psiquiatria Metabólica
Existe tratamento com menos (ou até sem) remédios.
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