Minha trajetória até chegar à Psiquiatria Metabólica

6/23/20255 min read

Olá, tudo bem?

Já faz um tempo que este blog está no ar, mas, hoje, com o lançamento da Newsletter, quero me apresentar novamente e contar um pouco sobre os motivos que me levaram a criar a News (e os outros canais de comunicação como YouTube, site e Instagram).

Um pouco sobre mim

Me chamo Régis Chachamovich, nasci em Porto Alegre, em dezembro de 1977, e morei lá até maio de 2010, quando me mudei para Floripa, onde vivo até hoje.

Toda minha formação foi na minha cidade natal: cursei Medicina na UFRGS e fiz minha especialização em Psiquiatria no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA).

Desde antes da faculdade, já sentia o desejo de aprender e praticar Psicoterapia Psicanalítica — muito influenciado pelo meu pai, também psiquiatra e psicanalista, que sempre foi uma referência para mim, tanto na prática clínica quanto na postura ética e humana diante da profissão.

Ele foi alguém que ousou seguir um caminho próprio em um tempo em que o convencional era quase obrigatório — e essa coragem me marcou profundamente, especialmente nos momentos de virada da minha trajetória.

Nos meus primeiros 15 anos de atuação como psiquiatra, me dividi entre a prática da psicoterapia psicanalítica e a chamada psiquiatria clínica tradicional, centrada principalmente na prescrição de medicamentos e em intervenções pontuais no estilo de vida. Pela minha formação psicanalítica — e também pelo olhar crítico herdado do meu pai — nunca me senti satisfeito com a abordagem tradicional.

O meu dia-a-dia era preenchido por uma quantidade desconfortavelmente grande de pessoas que se queixavam de não estarem melhorando como gostariam – e muitas vezes não estavam melhorando praticamente nada. Eu sabia que a maior parte delas seguia as orientações, ou seja, tomavam seus remédios de forma correta, faziam terapia, boa parte fazia também algum tipo de atividade física (ou pelo menos tentava – por vezes os sintomas não permitiam). E mesmo assim não melhoravam – ou melhoravam pouco – e por pouco tempo. Algumas vezes, tinham melhora mais significativa, mas às custas de muitos efeitos adversos, o que atrapalhava (e muito) a qualidade de vida.

A minha virada de chave

Nesta época, comecei a pensar seriamente em abandonar a psiquiatria clínica e me dedicar exclusivamente à psicanálise. Essa era, naquele momento, minha maior vontade profissional. Mas, em 2014, algo aconteceu que mudaria o rumo da minha história.

Minha esposa tinha o diagnóstico de Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) e, ao decidirmos engravidar, procuramos um endocrinologista. A orientação foi iniciar o uso de Metformina — um remédio para o tratamento do diabetes que também é indicado em casos de SOP. Mas ela teve muitos efeitos adversos e, felizmente, não conseguiu tomar o remédio. Por ser nutricionista, decidiu pesquisar por conta própria. Foi assim que descobriu, através do blog do Dr. José Carlos Souto, maior referência em Low Carb aqui no Brasil, que essa dieta poderia melhorar significativamente a resistência à insulina, que está na base da SOP e da infertilidade associada.

Até então, eu nunca tinha ouvido falar nessa dieta — tampouco na dieta cetogênica. Fiquei surpreso ao encontrar tantos estudos sérios e bem conduzidos mostrando os efeitos positivos dessas estratégias para SOP, diabetes tipo 2, obesidade, hipertensão...

Poucos meses depois, ela estava grávida. E eu estava completamente envolvido nesse novo universo. Fiz cursos, li artigos, assisti palestras... mas naquela época, ainda não enxergava relação entre isso e a Saúde Mental.

Foi só em 2019, assistindo a vídeos no YouTube, que me deparei com uma palestra da Dra. Georgia Ede, psiquiatra norte-americana formada em Harvard, falando sobre o uso da Dieta Cetogênica no tratamento de transtornos como depressão, transtorno bipolar, ansiedade, esquizofrenia, TDAH, entre outros — inclusive em casos que não respondiam a nenhum tratamento convencional.

Neste momento, entendi que havia encontrado algo diferente, algo especial. Por outro lado, parecia estranho: “Se estudei numa das melhores universidades do país, fiz minha especialização em um dos melhores hospitais do país, fui a congressos… e nunca ouvi falar nada a respeito, será que isso é sério?!”

Fui estudar e encontrei uma quantidade grande de ciência séria, bem feita, mostrando que a Dieta Cetogênica era um tratamento reconhecidamente eficaz para Epilepsia, mesmo aqueles casos que não melhoravam com os remédios, e que estava inclusive em livros-texto de Neurologia e em diretrizes oficiais para o tratamento de Epilepsia.

Ou seja: não era modismo, charlatanismo ou medicina alternativa. Era ciência. E era real.

Da teoria à prática

Mergulhei nos estudos: artigos, casos clínicos... E fui além: entrei em contato com os dois maiores nomes da Psiquiatria Metabólica no mundo — a Dra. Georgia Ede e o Dr. Chris Palmer, também de Harvard.

Para minha surpresa, ambos me responderam. A Dra. Ede se mostrou especialmente interessada e animada ao saber que havia um psiquiatra no sul do Brasil estudando esse tema. Conversamos por duas horas via Zoom, e isso me deu o impulso necessário para começar a aplicar esses conhecimentos com meus próprios pacientes. E desde então, venho me dedicando à missão de aplicar e divulgar a Psiquiatria Metabólica aqui no Brasil.

Afinal, o que é esse campo da Psiquiatria?

A Psiquiatria Metabólica é o nome dado a essa nova abordagem (e foi cunhado pela Dra. Shebani Sethi, de Stanford). Ela se sustenta em dois pilares:

Um pilar teórico, que reúne evidências sobre os mecanismos metabólicos que estão na raiz dos transtornos mentais — como a resistência à insulina, inflamação crônica, estresse oxidativo, e disfunções mitocondriais — presentes em quadros como depressão, ansiedade, bipolaridade, TDAH, esquizofrenia, entre outros.

É importante destacar: nenhuma medicação psiquiátrica atua diretamente nesses mecanismos. Isso ajuda a explicar por que tantos tratamentos convencionais falham.

E um pilar prático, que envolve intervenções clínicas capazes de agir justamente nessas raízes. A Terapia Cetogênica se destaca por ser amplamente estudada, com um volume robusto de evidências em humanos e animais, meta-análises e revisões Cochrane, e por ter impacto direto nos processos metabólicos associados aos Transtornos Mentais.

Quando comecei a estudar esse tema, e durante muito tempo, não havia um lugar onde buscar informações. O conhecimento estava pulverizado em perfis de Instagram e Twitter, artigos na Pubmed, palestras no Youtube, artigos espalhados em sites, e tudo isso no meio de muita informação errada e enganosa sobre estes tratamentos.

Aqui está um dos grandes motivos que me fez criar a Newsletter, junto com as minhas outras redes: poder oferecer um lugar seguro, em que há informação e conhecimento de qualidade, baseadas em ciência, sobre essa nova e empolgante área da Saúde Mental.

E, quando não houver ciência sólida, sempre vou deixar claro que se trata da minha experiência como psiquiatra ou de opinião pessoal.

Meu objetivo é ser uma referência confiável e acessível — e construir isso junto com você: com sugestões, reflexões, comentários e troca de ideias.

Muito obrigado por estar aqui.

Um grande abraço,

Dr. Régis Chachamovich