Dr. Régis Chachamovich

Atendimento presencial em Florianópolis e online para todo o Brasil

Homem triste

O que é Depressão Bipolar

A Depressão Bipolar corresponde aos episódios depressivos que acontecem em um quadro de Transtorno do Humor Bipolar (THB).

O THB é caracterizado, em linhas gerais, pela presença de episódios (ou períodos) de Mania ou Hipomania, episódios Depressivos, e períodos de Eutimia (quando o humor fica estável). Neste artigo, explico com detalhes sobre o que é e como tratar o Transtorno Bipolar.

A Depressão Bipolar difere da chamada Depressão Unipolar (que corresponde ao que comumente chamamos de Depressão, quando não há episódios de Mania ou Hipomania). Os dois quadros clínicos são bastante parecidos, embora possa haver algumas diferenças entre eles.

Existem algumas características (ou sintomas) que podem sugerir que se trate de Depressão Bipolar, ao invés de Depressão Unipolar, por exemplo:

1 – Depressão no período Pós-Parto: quando há episódio Depressivo no período pós-parto (em geral nos primeiros meses após o nascimento), existe uma chance maior de se tratar de um caso de THB (e, portanto, der uma Depressão Bipolar)

2 – Sintomas Atípicos: a presença da chamada Depressão Atípica também aumenta as chances de se tratar de um caso de THB. Sintomas atípicos são aqueles que são diferentes dos sintomas comuns na Depressão Unipolar. Por exemplo, na Depressão Atípica temos excesso de sono e aumento de apetite, enquanto na Depressão Unipolar temos em geral insônia e diminuição do apetite.

3 – Variações bruscas de humor: enquanto na Depressão Unipolar a tendência é de o humor fique mais rebaixado quase o tempo todo, na Depressão Bipolar com frequência há variações rápidas de humor, alternando entre momentos de desânimo e momentos de mais disposição e humor mais elevado.

Caras alternadas

A presença destas características não fecha o diagnóstico de Depressão Bipolar, mas sugere que este possa ser o caso.

Na maioria dos casos de Transtorno Bipolar, existe um predomínio de Episódios Depressivos, com menos Episódios Maníacos ou Hipomaníacos. Daí a importância de sabermos reconhecer, diagnosticar, e tratar adequadamente estes quadros.

O que são “Comorbidades” e por que são importantes

          Comorbidades são outras doenças ou condições clínicas que ocorrem ao mesmo tempo em que o diagnóstico psiquiátrico. Existem algumas doenças ou desregulações do metabolismo que ocorrem com mais frequência em pessoas que têm diagnóstico de Transtorno Bipolar.

          Algumas destas alterações interferem diretamente no tipo e na eficácia dos tratamentos realizados. Alguns exemplos são:

          1 – Diabetes: pessoas com Transtorno Bipolar têm mais chances de ter Diabetes. Quando há o diagnóstico de Diabetes, os sintomas de THB tendem a ser mais intensos, e a resposta aos remédios tende a ser pior.

          2 – Sobrepeso e Obesidade: assim como para o Diabetes, pessoas com Transtorno Bipolar têm mais chances de ter Sobrepeso ou Obesidade. Quando isso acontece, a resposta aos remédios também tende a ser pior.

          3 – Síndrome Metabólica: também chamada de Resistência à Insulina. É uma alteração do metabolismo cada vez mais comum, atingindo uma grande parte dos homens e mulheres atualmente. Suas manifestações são clínicas (aumento da circunferência abdominal, aumento da pressão arterial, aumento de peso, gordura no fígado, entre outros), ou nos exames laboratoriais (aumento de triglicerídeos, aumento da glicose, aumento do ácido úrico, diminuição do colesterol HDL, entre outras). Sabemos que a presença desta alteração impacta de forma negativa tanto os sintomas do THB quanto a resposta aos medicamentos.

Donut

          Por tudo isso, é extremamente importante que o psiquiatra saiba pesquisar e diagnosticar estas alterações, bem como tratar de forma adequada, para aumentar as chances de boa resposta às estratégias propostas.

TRATAMENTOS

          Tradicionalmente, os médicos psiquiatras usam as medicações como ferramentas centrais no tratamento do Transtorno Bipolar. As principais classes de medicações usadas são:

1 – Estabilizadores do Humor: como o nome sugere, estes remédios têm a intenção de estabilizar o humor, ou seja, tratar a grande variabilidade do humor, que é uma das marcas do THB.

2 – Anticonvulsivantes: são remédios que são indicados primariamente para o tratamento da Epilepsia, mas que comumente são usados no THB.

3 – Antipsicóticos de Segunda Geração: são medicamentos desenvolvidos para o tratamento da Esquizofrenia, mas que podem ser usados nos casos de Transtorno Bipolar.

4 – Antidepressivos: os antidepressivos são usados com frequência na Depressão Unipolar, mas podem, em algumas situações pontuais, ser usados também na Depressão Bipolar.

          Em alguns casos, há uma boa resposta ao tratamento com medicações, com melhora significativa do quadro clínico.

Remédios

          Infelizmente, em muitos casos pode acontecer de a tentativas de medicações (e de combinações de remédios) não serem tão eficazes quanto gostaríamos. Ainda, pode haver uma melhora, mas com muitos efeitos adversos dos remédios.

          Outro fator significativo é que, se há a presença de comorbidades como Obesidade ou Resistência à Insulina, é extremamente importante identificar e saber tratar estas alterações metabólicas.

          Por tudo isso, o uso de intervenções não medicamentosas (alternativas aos remédios) muitas vezes é extremamente útil no plano de tratamento.

          Algumas intervenções são praticamente universais, ou seja, devem fazer parte de quase todos os tratamentos. As principais são atividade física, sono de qualidade, e controle do estresse. Essas são 3 fatores que interferem diretamente na Saúde Mental e nos tratamentos psiquiátricos.

          Uma intervenção mais potente, capaz de melhorar o funcionamento do organismo em vários aspectos, e mudar de forma profunda o metabolismo cerebral, é a Estratégia (ou Dieta) Cetogênica.

          Além disso, como “benefício adicional”, a Dieta Cetogênica costuma melhorar de forma significativa as comorbidades metabólicas que ocorrem com frequência em pessoas com Depressão Bipolar (como a Síndrome Metabólica, o Diabetes, e a Obesidade, entre outras). Isso faz com que o potencial de eficácia desta intervenção seja bastante grande.

          O que vemos na prática é que na grande maioria das vezes há melhora significativa dos quadros psiquiátricos, incluindo a Depressão Bipolar.

          O que é a Dieta Cetogênica e por que ela funciona?

A Dieta Cetogênica (Ketogenic Diet ou Keto, em inglês) é uma intervenção alimentar que foi testada pela primeira vez há mais de 100 anos (ou seja, não é uma “dieta da moda”, como vemos algumas pessoas falarem). Nessa época, não existiam remédios para Epilepsia, e o que se sabia é que pessoas com Epilepsia, mesmo que grave, melhoravam muito quando faziam a Dieta Cetogênica. Passou-se então a pesquisar cada vez mais essa Dieta, tanto para verificar a eficácia, mas também a segurança.

Keto

As pesquisas e a prática mostram que é uma intervenção bastante segura, com pouquíssimos efeitos adversos, e bastante eficaz. Desde então, a Dieta Cetogênica passou a ser um tratamento reconhecidamente eficaz para Epilepsia, sendo prescrita até hoje.

Mais recentemente, nas últimas 2 décadas, alguns psiquiatras americanos resolveram testar essa Dieta em paciente com Transtornos Psiquiátricos, já que muitos dos remédios que são usados em Psiquiatria são, originalmente, remédios para Epilepsia.

Aqui (https://www.youtube.com/watch?v=6VA6l0OZ0QQ), falo de maneira mais extensa sobre o histórico e a utilidade da Dieta Cetogênica em Saúde Mental.

Observou-se uma melhora significativa em grande parte dos casos, mesmo naqueles pacientes que já faziam tratamento há muitos anos, e tinham tomado uma grande quantidade de remédios.

Desde então, diversas pesquisas têm sido feitas para avaliar o efeito da Dieta Cetogênica nos Transtornos Psiquiátricos, e o que elas têm mostrado é justamente que é um tratamento seguro, com poucos efeitos adversos, e com uma eficácia bastante alta.

Na minha prática, tenho prescrito a Dieta Cetogênica para pacientes com Depressão Refratária há mais de 4 anos (além de diversos outros Transtornos, como Bipolaridade, TOC, TDAH, Transtorno de Compulsão Alimentar, Esquizofrenia, Transtornos de Ansiedade, por exemplo).

Aqui, minha conversa com o Dr. Souto no Podcast Comida Sem Filtro sobre o assunto.

(https://drsouto.com.br/comida-sem-filtro-123-psiquiatria-metabolica-parte-1/)

(https://drsouto.com.br/comida-sem-filtro-124-psiquiatria-metabolica-parte-2/)

O que vejo é que a maioria das pessoas, quando seguem o tratamento, têm melhora significativa dos seus sintomas. Muitas vezes, isso possibilita diminuir e, em alguns casos, suspender as medicações em uso.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *