O que é o Transtorno Bipolar?
O Transtorno Bipolar (ou THB – Transtorno do Humor Bipolar) é uma condição psiquiátrica que atinge aproximadamente 6 milhões de pessoas no Brasil (e 140 milhões de pessoas no mundo). Faz parte do grupo dos chamados Transtornos do Humor, que inclui também a Depressão e outros.

O Transtorno Bipolar é desencadeado em geral no início da vida adulta (mais comumente entre 15 e 25 anos), e atinge igualmente homens e mulheres. É uma doença crônica, ou seja, se manifesta ao longo da vida. Em função disso, necessita tratamento contínuo, também ao longo da vida da pessoa que tem o transtorno.
A principal característica do THB é a alternância entre 3 fases (ou períodos):
1 –Períodos Depressivos – são fases em que a pessoa se sente depressiva na maior parte do tempo, com sintomas como tristeza, desânimo, falta de vontade para fazer as coisas do dia a dia, angústia intensa, não sentir prazer nas atividades que habitualmente gosta de fazer, choro fácil e frequente, alterações de memória e raciocínio, insônia, diminuição de apetite, desesperança, entre outros. Esses períodos duram em geral semanas ou meses.
2 –Períodos de Mania ou Hipomania – são fases em que a pessoa fica eufórica (com o humor elevado, como se estivesse “feliz demais”), acelerada (como se estivesse “ligada no 220V”), com excesso de energia, irritabilidade, fazendo muitas coisas ao mesmo tempo, os pensamentos ficam acelerados, fazendo muitos planos (às vezes grandiosos), dormindo pouco e não se sentindo cansado(a), falando muito e rápido. Algumas vezes, pode haver delírios (distorções do pensamento, como por exemplo a certeza de que é alguém famoso, ou extremamente rico).
Fazemos uma diferenciação entre o estado de Mania e o de Hipomania. A Mania se refere a um quadro mais intenso, mais severo, em que pode haver a presença de delírios. O quadro de Hipomania é menos intenso, sem a presença de delírios. A duração dos quadros de Mania ou Hipomania em geral é de alguns dias ou poucas semanas.
3 – Períodos de Eutimia – são períodos em que o humor está estável, sem alterações maiores (sem Depressão, Mania ou Hipomania). Em geral, entre as fases da doença, há períodos em que a pessoa fica bem, sem alterações significativas. A duração destes períodos é bastante variável, podendo ser de alguns meses até anos em alguns casos.

O Transtorno Bipolar pode ser dividido em dois tipos:
– O THB tipo 1 corresponde ao tipo mais severo da doença, em que há a presença de Episódios de Depressão intercalados com Episódios de Mania.
– O THB tipo 2 representa o tipo mais leve, em que há alternância entre Episódios Depressivos e Episódios de Hipomania.
Essa diferença tem algumas implicações em relação ao tratamento.
Tratamentos para o Transtorno Bipolar
O tratamento do Transtorno Bipolar envolve diferentes medidas, sendo que tradicionalmente a base está no uso de medicações (embora seja possível em muitos casos o tratamento com poucas medicações e eventualmente sem medicações – veja mais adiante).
Além do uso de remédios, outras intervenções também são muito importantes para um melhor resultado terapêutico.
Tratamento Medicamentoso
Existem diferentes classes de remédios que podem ser usados no tratamento do THB. Os principais são:

1 – Estabilizadores do Humor : são os principais medicamentos usados. Como o próprio nome sugere, têm o efeito de agir sobre as oscilações do humor, que são a marca do Transtorno.
2 – Antipsicóticos : são medicamentos usados em outros Transtornos Psiquiátricos, e que são bastante usados no THB por terem efeitos de Estabilizadores de Humor.
3 – Anticonvulsivantes : são remédios usados para Epilepsia, e que também podem ser úteis no tratamento do THB.
4 – Antidepressivos : os antidepressivos devem ser usados com cautela nos casos de THB, porque podem induzir a um Episódio de Mania ou Hipomania. Existem algumas situações em que podemos usá-los, sempre com cuidados.
Tratamento Não Medicamentoso
Outras abordagens são altamente importante e úteis no tratamento do THB. Elas incluem:
– Atividade Física: a atividade física é bastante eficaz em alterar para melhor o metabolismo do corpo todo, e em especial do cérebro. Ela deve fazer parte do tratamento de praticamente todas as doenças psiquiátricas. No THB, ela melhora a resposta ao tratamento, aumenta a qualidade de vida, e tem papel na prevenção de Episódios Depressivos e de Mania/Hipomania.
– Sono: o sono de qualidade é de extrema importância para as pessoas com THB (como de resto para todas as outras pessoas). Sono insuficiente ou de má qualidade aumenta as chances de Episódios da doença, piora a resposta ao tratamento, e está associado a pior prognóstico.
– Alimentação: alimentação de má qualidade piora o metabolismo como um todo, o que leva a quadros mais cronificados e de difícil tratamento.
Casos Resistentes e Outros Tratamentos Disponíveis
O tratamento com base no uso de remédios (além das outras medidas citadas anteriormente) pode ser útil e efetivo para uma parcela das pessoas com o Transtorno Bipolar. Infelizmente, esse não é casos para um grupo considerável de pessoas. Aproximadamente 30-35% das pessoas não têm boa reposta com os tratamentos medicamentosos, mesmo quando fazem trocas frequentes de remédios e usam diferentes combinações deles.

Eu costumo dizer que, além das pessoas que se sentem bem com o tratamento medicamentoso, existem outros 4 grupos de pessoas com o Transtorno Bipolar:
1 – Pessoas que não têm melhora significativa com o uso de remédios. Como citado, 30-35% das pessoas não têm melhora importante com o tratamento convencional, permanecendo com sintomas importantes que impactam a qualidade de vida de maneira intensa.
2 – Pessoas que sentem muitos efeitos adversos. Diversas medicações psiquiátricas podem desencadear efeitos colaterais muito incômodos. Alguns exemplos são sonolência excessiva, ganho de peso (sobrepeso ou obesidade), disfunções sexuais (diminuição de libido, dificuldade de ereção), alterações de memória e raciocínio, tremores nas mãos, entre outros. Nestes casos, pode haver uma melhora dos quadros Depressivos e Maníacos/Hipomaníacos, mas a qualidade de vida no dia a dia fica muito comprometida.
3 – Pessoas que têm sintomas residuais. Sintomas residuais são sintomas que “sobram”, persistem, mesmo que haja algum grau de melhora do quadro clínico. Nas pessoas com THB, por vezes há uma melhora dos Episódios da doença, mas existem sintomas depressivos residuais. Na prática, isso significa que a pessoas não tem Episódios Depressivos intensos, mas no dia a dia se sente desanimada, sem a disposição e energia que gostaria, algo mais apática. Nesses casos, a qualidade de vida também fica prejudicada.
4 – Pessoas que gostariam de fazer seus tratamentos com menos remédios ou eventualmente sem remédios. Podem ser pessoas que estão em tratamento e gostariam de diminuir ou poder ficar sem medicações, ou pessoas que preferem começar o tratamento sem usar remédios como primeira opção.
Existem opções para estes casos?
O tratamento de qualquer Transtorno Psiquiátrico deve ser feito de maneira séria e ética, sem promessas milagrosas ou “tratamentos alternativos”.
O Transtorno Bipolar é uma condição séria, que pode envolver riscos importantes, e requer muita responsabilidade do psiquiatra. Isso significa que nenhuma pessoa com THB deve deixar de tomar os remédios e passar a fazer uso de fitoterápicos ou outras alternativas que prometam “curar” sua doença.
Com base na ciência séria e responsável, há uma intervenção que pode ser usada como o tratamento principal do THB, e que traz a boas chances de se usar poucos remédios e, em alguns casos, não usar remédios.
Essa intervenção é a Terapia Cetogênica (ou Dieta Cetogênica).

A Terapia Cetogênica é um meio de fazer com que o organismo entre no estado de Cetose Nutricional.
A Cetose Nutricional é um estado que muda profundamente para melhor o funcionamento do cérebro (e de todo o corpo), fazendo com que o metabolismo cerebral fique mais eficiente, e resultando na maioria das vezes em melhora significativa dos sintomas do THB.
Aqui, explico com mais detalhes o que é Cetose Nutricional e como ela funciona.
Em resumo, esse tratamento foi desenvolvido há mais de 100 anos, em 1921, para o tratamento de Epilepsia, sendo usado desde lá para essa doença. Hoje, sabemos que grande parte das pessoas com Epilepsia Refratária (que não melhora com nenhuma medicação) tem melhora significativa com essa intervenção.
Em Psiquiatria, cada vez psiquiatras ao redor do mundo estão estudando e usando a Terapia Cetogênica na sua prática, com bons resultados mesmos naqueles casos em que diversos medicamentos não produziram bons efeitos.
Na minha prática clínica, venho utilizando a Terapia Cetogênica há mais de 4 anos em pacientes com o Transtorno Bipolar, com ótimos resultados em grande parte dos casos, mesmo em pacientes com doenças refratárias (que não melhoraram com o uso de diferentes medicamentos).