O que é Depressão Refratária?
A depressão é uma das doenças mais comuns em todo o mundo, e as estimativas são de que até 2030 deverá passar a ser a doença mais prevalente entre todas as doenças (não só entre as doenças psiquiátricas).

Os dados mais recentes sugerem que a Depressão atinge aproximadamente 12 milhões de pessoas no Brasil (mais ou menos 5,8% da população), estando acima da média global, que é de aproximadamente 4,4% das pessoas. Isso faz com que o Brasil esteja, infelizmente, entre os “campeões” de Depressão no mundo, uma posição bastante preocupante. Ainda mais preocupante é o fato de que esses números estão subindo consistentemente nas últimas décadas, assim como praticamente todas as doenças psiquiátricas.
Os tratamentos convencionais para a Depressão são baseados no uso de medicamentos, principalmente os antidepressivos, que são remédios com ação no funcionamento cerebral e que têm o objetivo de proporcionar melhora dos sintomas de uma maneira geral. Quando os remédios funcionam bem, há uma melhora significativa nos sintomas e na qualidade de vida da pessoa com a doença.
No entanto, em pelo menos 30% dos casos, esses tratamentos não funcionam como gostaríamos, e a isso chamamos de Depressão Refratária ou Depressão Resistente. Isso acontece quando o paciente usou 2 ou mais medicamentos, em dose adequada e por tempo suficiente, e não teve melhora significativa, ou seja, seu quadro é resistente aos tratamentos convencionais.

Na prática, é muito comum vermos pessoas que estão fazendo tratamento para Depressão há anos, tendo usado diversos remédios, feito trocas de medicamentos, combinações de 2 ou mais remédios, e não têm melhora significativa. Isso gera uma grande frustração tanto no paciente quanto no médico, por se sentirem impotentes sem conseguirem encontrar um tratamento realmente eficaz.
Além disso, outra situação bastante comum são pessoas que sentem muitos efeitos adversos com o uso dos remédios, e em função disso ficam com a qualidade de vida bastante comprometida.
Sonolência, diminuição de libido, ganho de peso, sensação de ficar mais letárgico (ficar mais “devagar”), dificuldade de raciocínio e memória, agitação, são efeitos adversos possíveis. Melhorar dos sintomas depressivos, mas conviver com alguns destes efeitos adversos, torna a qualidade de vida menor do que os pacientes esperam quando procuram tratamento.
O que causa a Depressão Refratária?
Ainda não existe uma resposta definitiva para essa pergunta, mas já temos um bom conhecimento que nos ajuda a entender melhor o que acontece. Hoje sabemos que existe uma série de alterações do funcionamento cerebral em pessoas com Depressão, e essas alterações acontecem em diferentes mecanismos.
Um destes mecanismos é a ação dos neurotransmissores, que são substâncias muito importantes para o funcionamento do nosso cérebro. Os mais conhecidos são a Serotonina, a Dopamina, o GABA (existem vários outros). Via de regra, os medicamentos antidepressivos agem nesse mecanismo, aumentando a disponibilidade de alguns neurotransmissores na comunicação entre os neurônios.
Entretanto, este é apenas um entre diversos outros mecanismos que estão alterados no cérebro da pessoa com Depressão:
1 – Inflamação: a inflamação é uma alteração que está presente em muitas doenças comuns, como Diabetes, Infarto, AVC, Síndrome dos Ovários Policísticos, Obesidade, Endometriose. Nas doenças psiquiátricas, a inflamação é uma das principais alterações que acontecem no funcionamento cerebral. O cérebro da pessoa com Depressão é na maioria das vezes um cérebro inflamado. Isso muda de maneira significativa vários processos, inclusive a produção de neurotransmissores.
2 – Produção de Energia: na Depressão, é comum que exista uma condição chamada de Resistência Insulínica. Uma das consequências disso é que os neurônios produzem menos energia do que o normal (a Insulina tem um papel importante na produção de energia pelas células), ou seja, existe menos “combustível” para o cérebro.
3 – Estresse Oxidativo: esse termo se refere ao acúmulo de Radicais Livres, que são substâncias produzidas pelas células do corpo todo naturalmente, e que são tóxicas para o nosso DNA. O organismo produz antioxidantes, que combatem os Radicais Livres, mas no cérebro da pessoa com Depressão, há um acúmulo de Radicais Livres, o que acarreta danos soa neurônios.
Estes são alguns exemplos, mas existem outros mecanismos que estão alterados no cérebro da pessoa com Depressão.
Se os medicamentos agem basicamente em apenas um destes mecanismos, fica mais fácil de entender por que muitas vezes eles não têm o efeito desejado, ou seja, existem outras alterações cerebrais que não são tratadas pelos antidepressivos, e isso provavelmente faz com que em muitos casos não haja uma melhora significativa com o tratamento baseado no uso de medicamentos.
A pergunta que vem em seguida, então, é: o que podemos fazer nessas situações?
Como tratar a Depressão Refratária
Na prática, o que vemos na maioria das vezes são pessoas que fazem tratamento psiquiátrico por anos, usam diversas medicações, e não têm a melhora que gostariam. Seguir trocando remédios, associando novos medicamentos, usando 3 remédios ou até mais ao mesmo tempo, muito provavelmente não irá trazer o efeito desejado.

Existem alguns tratamentos mais invasivos que podem ter uma eficácia mais alta do que os remédios, mas são caros, difíceis de fazer, e trazem muitas vezes efeitos adversos que incomodam muito. Um exemplo é o ECT (eletroconvulsoterapia), que tem de ser feito sob anestesia, num ambiente hospitalar, e tem um custo bastante alto, sendo inviável para a maioria das pessoas. Além disso, é um tratamento que tem frequentemente efeitos adversos indesejáveis.
Um tratamento que está sendo cada vez mais proposto e utilizado, muitas vezes com boa resposta mesmo nas situações em quem diversos remédios não funcionaram, é a Dieta Cetogênica.
O que é a Dieta Cetogênica e por que ela funciona?
A Dieta Cetogênica (Ketogenic Diet ou Keto, em inglês) é uma intervenção alimentar que foi testada pela primeira vez há mais de 100 anos (ou seja, não é uma “dieta da moda”, como vemos algumas pessoas falarem). Nessa época, não existiam remédios para Epilepsia, e o que se sabia é que pessoas com Epilepsia, mesmo que grave, melhoravam muito quando faziam a Dieta Cetogênica. Passou-se então a pesquisar cada vez mais essa Dieta, tanto para verificar a eficácia, mas também a segurança.
As pesquisas e a prática mostram que é uma intervenção bastante segura, com pouquíssimos efeitos adversos, e bastante eficaz. Desde então, a Dieta Cetogênica passou a ser um tratamento reconhecidamente eficaz para Epilepsia, sendo prescrita até hoje.

Mais recentemente, nas últimas 2 décadas, alguns psiquiatras americanos resolveram testar essa Dieta em paciente com Transtornos Psiquiátricos, já que muitos dos remédios que são usados em Psiquiatria são, originalmente, remédios para Epilepsia.
Aqui (https://www.youtube.com/watch?v=6VA6l0OZ0QQ), falo de maneira mais extensa sobre o histórico e a utilidade da Dieta Cetogênica em Saúde Mental.
Observou-se uma melhora significativa em grande parte dos casos, mesmo naqueles pacientes que já faziam tratamento há muitos anos, e tinham tomado uma grande quantidade de remédios.
Desde então, diversas pesquisas têm sido feitas para avaliar o efeito da Dieta Cetogênica nos Transtornos Psiquiátricos, e o que elas têm mostrado é justamente que é um tratamento seguro, com poucos efeitos adversos, e com uma eficácia bastante alta.
Na minha prática, tenho prescrito a Dieta Cetogênica para pacientes com Depressão Refratária há mais de 4 anos (além de diversos outros Transtornos, como Bipolaridade, TOC, TDAH, Transtorno de Compulsão Alimentar, Esquizofrenia, Transtornos de Ansiedade, por exemplo).
Aqui, minha conversa com o Dr. Souto no Podcast Comida Sem Filtro sobre o assunto.
(https://drsouto.com.br/comida-sem-filtro-123-psiquiatria-metabolica-parte-1/)
(https://drsouto.com.br/comida-sem-filtro-124-psiquiatria-metabolica-parte-2/)
O que vejo é que a maioria das pessoas, quando seguem o tratamento, têm melhora significativa dos seus sintomas. Muitas vezes, isso possibilita diminuir e, em alguns casos, suspender as medicações em uso.
A Dieta Cetogênica é um estilo de alimentação em que reduzimos a quantidade da carboidratos, mantemos uma quantidade saudável de proteínas, e ajustamos a quantidade de gorduras boas conforme a necessidade de cada pessoa. Não há a necessidade de comprar alimentos caros, especiais, ou difíceis de encontrar. É o conjunto da alimentação que faz o efeito, e não alimentos específicos.
O objetivo é fazer com que o organismo passe a usar predominantemente a gordura como fonte de energia. É por este motivo que essa dieta também é usada para pessoas com obesidade: as reservas de gordura do corpo passam a ser metabolizadas para gerar energia.
A diferença fundamental da Dieta Cetogênica para os remédios é que, enquanto os remédios atuam em mecanismos restritos (os neurotransmissores, na maioria das vezes), e Dieta atua em praticamente todos os mecanismos que estão alterados no cérebro das pessoas com Depressão.
Todos aqueles mecanismos citados no começo deste artigo são melhorados pela Dieta Cetogênica. Isso torna essa intervenção muito mais do que uma simples dieta. Na verdade, é um tratamento que muda de maneira profunda (para melhor) o funcionamento cerebral.
Boa tarde, eu tenho depressão profunda e síndrome do Pânico.Minha depressão começou quando perdi minha irmã querida.Ela era meu alicerce.Ela foi hospitalizada, ficou mais de vinte dias fazendo todo tipo de exames e não achavam o diagnóstico.No fim descobriram que era câncer nas supras renais.No primeiro dia na UTI, aplicaram medicamentos e morreu na hora.Eu não pude ir ao hospital visita-la, porque estava tendo várias crises de Pânico.No velório,tive crise de Pânico.Quando voltei para minha casa eu e meu filho, veio a depressão.Meu filho começou usar drogas, maconha, e não sei se usou ou usa outras coisas.Ja tivemos muitos desentendimentos por isto e outras coisas.Minha família ficou desistruturada.Eu e meu pai, entramos em um luto profundo.O restante da família superou e vivem bem suas vidas.Eu não participo de nenhuma festa de nada mesmo.Varias vezes tentei tirar minha vida.A dor é insuportável.Nao tenho amigos, fui humilhada por pessoas que diziam serem meus amigos.Falaram que eu tenho frescura, falta de roupa para lavar, falta de fé em Deus, que estou possuída, falta de tapa na cara.Isto aconteceu em 2014 no dia três de Dezembro.Nao saio mais de casa.Tomo Reconter e rivotril.10 mg de Reconter e 2mg de Rivotril.Fico triste por meus irmãos não entenderam que ainda sofro com a perda dela.Ela. faleceu com 58 anos de vida.Foi tudo de repente.Na verdade ela ficou no hospital se tratando da doença Steve Jhonson, depois falaram que era câncer.Bom hoje ainda estou tomando estes medicamentos.Fiz todos exames principalmente do coração, um montão de vezes.Dizem que está tudo bem.Parei de ir ao psiquiatra, ao psicólogo, não me ajudou.Mas estou tomando a medicação.Meu filho ainda fuma maconha, isto ainda me machuca, foi por minha causa que ele começou.Como posso me curar do meu Luto.😔 desculpe, ficou longo meu depoimento, só não sei o que fazer.Abracos.
É realmente uma situação com muitos fatores que estão mantendo os sintomas. O trartamento é possível, muito provavelmente. Isso requer uma avaliação ampla destes fatores, e intervenções que tenham o poder de promover mudanças significativas no metabolismo. Existem estratégias que podem ter esse efeito, se aplicadas corretamente.